Será que isto é que é amor?
Este fim de semana tive um momento difícil em que fui a um funeral do marido de uma amiga, ele era estupidamente novo e faleceu sem aviso, um ataque cardíaco que o roubou à família e deixou para trás uma esposa destroçada e dois filhos adolescentes...
Isso fez-me pensar muito no meu casamento. Há 21 anos que partilho uma vida com o meu marido, e quase 23 que estamos juntos. Em mais de duas décadas já tivemos dezenas e dezenas de bons e maus momentos. Estivemos um para o outro quando era preciso, mas também virámos costas com a frustração e as divergências. Chegámos a estar separados uns meses, mas também regressámos um para o outro e renovámos a missão de sermos um "nós". Ele é um idiota e eu sou emotiva, somos ambos de personalidade muito forte e não gostamos que nos apertem os calos. Mas ao mesmo tempo rimos muito, de nós e de tudo, temos projectos doidos que decidimos começar e choramos no ombro quando é difícil continuá-los. Fizemos muitos sacrifícios para chegar onde chegámos mas tenho a certeza que nenhum dos dois conseguia estar aqui hoje, neste momento, se não fosse o outro. Tenho muito orgulho nele e sei que ele também tem em mim. Além de amantes somos e sempre fomos amigos, e uma equipa para tudo, completamo-nos com características diferentes mas não nos sentimos melhor que o outro, apenas 2 peças do mesmo puzzle.
Agora que os miúdos abandonaram o ninho e preferem passar o tempo mais com os amigos que com os pais, temo-nos reencontrado de outra forma. Apesar do pouco tempo disponível, arranjamos pelo menos um fim de semana por mês para passear algures, fazer caminhadas e conhecer um sítio novo, ou quando conseguimos uns dias viajamos mesmo só os dois. E por estranho que seja, estes momentos a dois são de reconhecimento de 2 pessoas que estiveram muito tempo focadas em propósitos além delas, e como casal são um mundo novo. Temos outra profundidade, outra compreensão, outra maturidade. A paixão move-nos, mas a amizade, a presença, o carinho e o entendimento ganharam uma dimensão astronómica agora. É quase uma telepatia.
Pergunto eu, será que isto é o verdadeiro amor? Será que é possível reinventar o amor que temos por alguém e amar mais e mais ao longo da vida?
Com a perda da minha amiga fiquei a refletir que se algo me acontecesse assim agora, ia arrancar-me um pedaço gigante daquilo que sou, tudo o que tenho e faço é muito em prol da família e não imagino a família sem a figura do meu marido a participar nela. Já perdi a minha mãe, os meus avós, e tirando o meu pai todas as figuras marcantes do meu crescimento já não estão cá, e eu consegui encaixar a morte delas e seguir em frente, mesmo que com dor e saudade. As pessoas falam nos filhos mas eu acho que seria tão doloroso para mim perdê-lo como a qualquer filho. Só de pensar nisso cria-me uma angústia imensa. Não sei o que é depressão mas certamente que a ausência do meu marido ou de um filho seria o mais próximo que me poderia acontecer, porque a alegria e o objetivo de vida iria embora com eles.
Queria desabafar convosco isto porque ver a morte de alguém da nossa idade, e numa realidade tão similar, chocou-me e tocou-me de uma forma que não imaginava, e tenho passado estes 3 dias a pensar muito nisto, precisava pôr cá para fora. Obrigada!